A intuição na seleção de pessoas

Seleção de pessoas deve ser uma escolha fundamentada, ou seja, baseada em fundamentos (entrevista, testes) os mais diversos. As técnicas têm sido aprimoradas. Atualmente, figura a seleção por competências, cujo tema já foi postado aqui no blog.
Muito provavelmente outras técnicas vão surgir, mas todas elas aprimoram a dimensão mensurável do ato de selecionar pessoas. Ainda que nosso foco seja nas competências, habilidades, valores das pessoas, a seleção é escolher pessoas - pessoas em sua totalidade. A divisão é uma mera tentativa de quantificar alguns aspectos. Digo tentativa porque há um outro aspecto envolvido na seleção: a intuição. A intuição apreende o restante, apreende aquilo que o avaliador não conseguiu captar com os testes e a argumentação do candidato. 
A seleção de pessoal aprimora-se continuamente. Mescla de ciência e arte, muitas vezes imprime no candidato a imagem que ele terá daquela organização que lhe está avaliando. Porém, a imagem que o profissional-candidato leva da empresa contratante não é tão atrelada à precisão técnico-científica do processo seletivo, mas sim à postura, à abordagem, à empatia e, claro, à respeitabilidade que o profissional de seleção apresentou ao longo do processo. Tão importante quanto conduzir com maestria uma entrevista ou aplicar um teste, é abordar o candidato com respeito, cordialidade, interesse e, perdoem-me os selecionadores formais e sistemáticos, leveza de espírito.
A leveza de espírito é um conceito aparentemente abstrato. E parece abstrato, de fato, justamente devido à dificuldade de materializá-lo em palavras. A leveza de espírito é demonstrar interesse pelo candidato e suas histórias, surpreender-se, frustrar-se junto com ele, sentir e pressentir, sorrir com facilidade, refletir suas expressões. Compreensão antes de explicação. Não se deixar sequestrar por preconceitos, mas deixar "em cima da mesa" suas intuições. Ainda que vivamos numa sociedade que nos petrifica, ainda somos humanos. Pressentimento e intuição são fenômenos que, inevitavelmente, fazem parte da nossa relação com o mundo e, sobretudo, nas relações humanas. Há aqueles que nos dizem para jogar fora os pressentimentos e as intuições, como se estas sensações fossem algum tipo de fraqueza; como se as coisas que pressinto e intuo nada servem, pois a verdade deve advir tão somente da racionalidade, da técnica, do método.
A racionalidade, dizem, fornece certezas. Será? Tenho medo das certezas. Defendo que a intuição é legítima. Num processo de seleção, assim como em todas as relações humanas, ela está presente e deve fazer parte do conjunto das nossas conclusões. Há de se tomar muito cuidado para não utilizá-la como pretexto que justifica preconceitos. Por isto, falo em leveza de espírito. Preconceito é um negócio pesado, afunda como âncora e nos deixa imóveis, amargos, míopes. Nada disso tem a ver com a intuição.
O que sinto e pressinto de meu candidato deve ser levado em conta, porque antes de ser profissional, sou gente. Antes do teste e da entrevista, tem meu olhar. E tudo isto em seu conjunto, em sua inter (e intra) relação, ao final do processo, forma um retrato daquele candidato. É ilusão os profissionais de seleção pensarem que, para fazer este retrato, é necessário somente o aprimoramento técnico. Seleção envolve necessariamente relação humana. E um melhoramento efetivo da seleção só ocorre, de fato, com um melhoramento afetivo e perceptivo.
Adaptado de Paulo Roberto Teixeira Junior