Como as empresas podem tornar as coisas fáceis se as pessoas são difíceis

É muito comum haver conflitos entre colegas de trabalho devido às diferenças de personalidade. Geralmente, esses conflitos afetam até mesmo a produtividade de uma equipe, devido ao negativismo que se instala no ambiente de trabalho. As diferenças entre pessoas existem e não há como evitá-las. É isso o que dá um colorido especial aos relacionamentos. Também não há como evitar choques e atritos, e nem é benéfico que deixem de existir, pois de discussões acaloradas podem surgir grandes ideias.

A dificuldade começa quando adotamos um determinado problema como parte integrante de nós mesmos, "incorporamos" a questão, e passamos a defender posições com o único objetivo de não sermos derrotados. Quando isso acontece no ambiente de trabalho, a empresa e seus objetivos passam para o segundo plano e vemos pessoas discutindo e defendendo suas opiniões, porque não gostam de perder ou ceder (questão de ego).

A primeira coisa que todo profissional deve entender é que existe uma terceira pessoa - podemos chamá-la de empresa, produto, cliente, processo ou o que for. O profissional deve lembrar que não é o seu interesse que deve estar em jogo, mas o interesse original da questão. Quando a pessoa entende isso, "desincorpora" a questão e passa a olhá-la de fora, o que faz com que tudo mude de figura. Pense em dois jogadores de futebol num daqueles dribles desesperados em que há igualdade de habilidade. Geralmente a bola não fica com nenhum dos dois, mas com um terceiro que observava tudo de fora. Portanto, "desincorpore" o problema, tire de si e passe a observá-lo de fora. Há um ditado em inglês que diz: "ninguém consegue ler o rótulo se estiver dentro da garrafa". É preciso sair dela. 



Todo profissional deve observar sua personalidade e julgá-la, colocá-la no banco dos réus de vez em quando. Só assim ele poderá enxergar-se a si mesmo e ponderar suas atitudes e valores. Acontece que há pessoas que têm uma tendência muito grande para o ataque. Outras têm uma tendência muito grande para a defesa. Em ambos os casos estamos diante de fracos, pessoas inseguras que procuram esconder essa insegurança atacando ou defendendo. É preciso uma auto-análise para detectar isso e estar disposto a reconhecer a falha e buscar a melhoria.

Falamos muito em melhoria contínua quando falamos de processos. Mas isso deveria ser um item sempre trabalhado em nós mesmos. Profissionais que se acham completos nunca irão entender isso. Quem pensa que já está bom, que já atingiu o patamar da perfeição, que é o Norte de seus colegas, não tem lugar na nova empresa.

Vivemos numa época em que precisamos dignificar o erro. Sim, colocar a falha como uma parte importante do processo de aprendizado. Nem escondê-la, nem negá-la, mas enfrentá-la. Reconhecer que se falha é o primeiro passo para buscar o aperfeiçoamento pessoal e profissional. E, é claro, isso terá consequências imediatas no relacionamento com aqueles que nos cercam.

Procure adotar uma postura que pode parecer absurda para alguns. Diante de certos impasses, coloque na cabeça o seguinte pensamento: "Bem, se alguém aqui tem que perder, que seja eu". Não é derrotismo, mas o reconhecimento de que em determinadas situações esticar a corda só gera rompimento, aumentar o peso só causa esmagamento.

Então chega uma hora em que aquele que consegue estar no controle da situação dá a mão à palmatória, cede para evitar dano maior. Assume, até, as consequências pela falta do outro. Difícil? Eu diria que é quase impossível. Mas é uma postura que encontramos em grandes líderes, em momentos de crise, quando tiveram que andar duas milhas com o que estava errado, na certeza de que o outro entenderia o seu erro e se retrataria.

"Se eu entregar os pontos agora, será melhor para a empresa, para a equipe, para o cliente? Ou devo continuar insistindo para satisfazer meu ego?" Esta indagação deveria estar soando um alarme em nossa mente quando nos deparamos com situações de elevado estresse na empresa.

Vivemos em um mundo onde tudo depende de uma adaptação constante para podermos sobreviver. Não gostamos de nos adaptar a certas situações, mas precisamos. Todavia, há pessoas que não conseguem se adaptar. Quando tentamos todas as técnicas, todos os recursos, todos os meios, e encontramos pessoas que são simplesmente incapazes de se adaptar ao relacionamento, a empresa deve procurar uma posição para essa pessoa que lhe permita continuar como alguém produtivo em seu quadro.

Mas, infelizmente, isso nem sempre é possível. Então vem a triste verdade de que nem todas as pessoas estão preparadas para mudanças. E aquelas que resistem acabam descobrindo, tarde demais, que resistir é a última característica que se espera de um profissional. Pois estamos em uma época em que a flexibilidade é uma das características mais procuradas por quem produz.

Inclusive, as próprias empresas precisam ser flexíveis para sobreviver em uma economia extremamente competitiva. Todos os dias as empresas precisam se reinventar para poder sobreviver. Uma empresa inflexível não tem condições de sobreviver às mudanças constantes do mercado. O mesmo pode ser dito de qualquer profissional. Não existe lugar para pessoas inflexíveis no mercado atual.

Adaptado de RH Portal - Mário Persona