Como o tipo de personalidade influencia no desempenho dos colaboradores

O estudo da personalidade se torna fator fundamental na condução de trabalhos de formação de equipes. Sem a escolha das pessoas adequadas para tal composição, pode-se estar fadado ao insucesso. Diante disso, expõem-se, abaixo, os tipos de personalidades definidos no estudo do professor Nelson Marinz de Lyra, denominados Eneagrama, a fim de se fazer uma correlação com os resultados das equipes.



O perfeccionista ou empreendedor
Este tipo tem um grande objetivo de vida: não errar. De preferência, nunca. É fixado na ordem e na perfeição, mas, geralmente, sente-se preso na imperfeição. Acumula inúmeros projetos ao mesmo tempo e, quando finaliza um deles com uma qualidade aquém do desejável, acaba não se perdoando. Dificilmente
o perfeccionista vai relaxar. Ao contrário, seu alto grau de exigência com relação a ele mesmo e aos
outros o faz permanecer em constante estado de alerta. Este tipo tem um caráter inabalável: é norteado
pelo pensamento correto e pela ética. Por outro lado, é comum sentir-se moralmente superior e no
direito de censurar os outros. Os verbos preferidos de pessoas com este tipo de personalidade são:
“dever”, “precisar” e “ter de”.


Focos de atenção:
a) Na busca da perfeição, esquiva-se do erro e do mal.
b) É impulsivo e seu impulso tem pouca duração.
c) Enfatiza virtudes práticas como trabalho, economia, honestidade e esforço.
d) Por ser empreendedor, pode chegar a ser um workaholic contumaz, tendo dificuldade de harmonizar família com o trabalho, o que o leva a bloquear sentimentos inaceitáveis.
e) Quando suas necessidades não são satisfeitas, pode, inconscientemente, sentir raiva e ressentimento.
f) Não raro, o perfeccionista pode assumir pensamentos maniqueístas, levando-o a uma postura
intransigente, em que não há meio-termo. Deixa de ser professor, que é uma de suas características, e passa a ser pregador, por vezes irritando o ouvinte.
g) Quando criticado, por mais que assuma uma nova postura, pode ficar ressentido por anos.


O doador ou prestativo
Pessoas com este tipo de personalidade concentram-se nas necessidades dos outros – o que não quer dizer que toda essa disposição em ajudar seja totalmente desinteressada, ainda que seja sob a forma de afeição e aprovação. Serem amadas e apreciadas é uma questão fundamental para pessoas com essa personalidade. Para isso, dão apoio, agradam, são conselheiras e prestativas. Obviamente, têm facilidade extrema para atrair pessoas para próximo de si, possuindo um excelente poder de relacionamento. Dessa forma, seu empenho acaba por torná-las presença indispensável em vários círculos de relacionamentos. Têm uma coleção de “eus”, que vai mostrando conforme a pessoa com quem se relaciona. Possuem dificuldades no processo de tomada de decisão e não gostam de assumir lideranças, por isso apóiam as pessoas que as têm.


Focos de atenção:
a) Para agradar aos outros, muitas vezes, abre mão de suas próprias necessidades. Aliás, nem sempre as vê.
b) Ao mesmo tempo, sente-se confinado pelo apoio que dá aos outros.
c) Vê como única forma de ganhar ou reter o amor de alguém adaptar-se aos seus desejos.

d) Não raro, manipula através da empatia que cria por sua postura solícita.
e) Como “recompensa”, por satisfazer as necessidades alheias, exige sua afeição e aprovação e, caso não as tenha, pode entrar em processo de hostilidade e de mártir.


O “desempenhador” ou bem-sucedido
Não há outro tipo de pessoa mais dedicada ao trabalho do que esta. Pessoas com este tipo de personalidade reprimem o seu desejo por relacionamentos de maneira que possam sustentar uma relação harmoniosa com o mundo. Para elas, o amor vem através de suas realizações e da imagem. Vêem o mundo como desafio, por isso, destacam-se em tudo o que fazem e não há obstáculo que as impeça de seguir adiante em seus objetivos. O espírito competitivo faz do “desempenhador” um líder eficiente – o que vem a coincidir com seus anseios, pois quer ser o primeiro, liderar, aparecer. É organizado e eficiente. Esse verdadeiro mestre em
aparência confunde o “eu real” com a identidade profissional e pode perder de vista seus sentimentos, já que o trabalho se torna um subterfúgio para tudo.


Focos de atenção:
a) Empreendimento: produtividade e desempenho. Objetivos: tarefas e resultados.
b) Buscam a eficiência como fator de vida e temem o fracasso, pensando que este fará com que percam o respeito e a reputação.
c) Pouco contato com a vida emocional. O coração dos “desempenhadores” está no trabalho.
d) São mestres na arte de disfarçar, mudando de postura, imagem ou papel tão rápida e perfeitamente como um camaleão.
e) O bem-sucedido corre o risco permanente de iludir-se sobre si mesmo, acreditando passar uma boa imagem.


O romântico ou individualista
O individualista é emotivo e focaliza a sensibilidade nas próprias necessidades e sentimentos. Tudo que se refere ao romântico remete à introspecção, ao mundo interior. O sentimento de utopia acompanha sua trajetória, que almeja sempre o inatingível. Fica espremido em sentimentos superalimentados e mal-podados, o que faz entender porque sua vida se torna monótona, pois as coisas acontecem conforme o previsto no script. No lugar do convencional, prefere o criativo. Nessa busca, encontra-se frequentemente com o sofrimento – sentimento que exerce fascínio sobre esse tipo romântico, mas também trágico. Quando em grupos, age como sugador de energia.


Focos de atenção:
a) Desprezo pelo lugar-comum e pela superficialidade de sentimentos.
b) A forma que encontra para enaltecer o lado comum da vida é por meio da perda, da fantasia, dos vínculos com a arte e dos atos dramáticos.

c) Os relacionamentos dos românticos seguem o ritmo instável do “ata-desata-reata”, já que quer sempre o melhor daquilo que está ausente.
d) Esse tipo extremamente sensível é também um grande apoio para pessoas em processo de dor ou crise.


O observador
O observador é um tipo que se protege das emoções fortes, principalmente quando envolvem outras pessoas. Ele tem como meta a objetividade, possui facilidade em produzir análises mentalmente claras e confiáveis e, diante de novas situações, capta as informações necessárias, compilando-as de forma isolada e reconstruindo a situação de acordo com a sua ótica. Pessoas com este tipo de personalidade são individualistas e preocupadas em manter intacta a sua privacidade e evitar o contato mais estreito. Ao se verem em público, sentem-se afastados das pessoas, permitindo-se às emoções somente quando está sozinho. Sua postura distanciada faz dele o próprio observador.


Focos de atenção:
a) Valoriza o domínio emocional. Prefere eventos estruturados, nos quais sabe, antecipadamente, todos os passos e a direção a seguir, evitando expor-se.
b) Organiza os vários aspectos da vida em compartimentos separados, pois, na sua visão, não há ligação entre eles.
c) Assiste à vida do ponto de vista do expectador. Além da noção dos acontecimentos, essa postura pode trazer-lhe uma sensação de isolamento.
d) Minimiza o contato para evitar o medo e a paixão.


O patrulheiro ou protetor
As dúvidas são a sombra deste tipo, que passa a vida questionando se o amor e a felicidade existem. Um medo de acreditar e ser traído coloca o patrulheiro sempre em estado de alerta, razão pela qual a entrega não encontra espaço em nenhuma circunstância. Suas ações estão sempre dentro das leis, normas e regulamentos, o que faz com que, muitas vezes, seja moroso no processo decisório. Além disso, ao invés
de agir, pensa e, por vezes, perde oportunidades. Isso explica o fato de ter seu crescimento pessoal truncado. O lado positivo é que, quando bem empregada, a mente questionadora produz clareza de propósitos. Também identifica-se com as injustiças sociais e coloca-se com disposição para trabalhar por
uma causa em que acredita. Quando erra, passa todo o tempo seguinte tentando justificar o erro.


Focos de atenção:
a) Mentalmente, o patrulheiro funciona com um “sim, mas...” ou “isso pode não dar certo”.
b) Ele tem medo de admitir a própria raiva e tem medo de enfrentar a raiva dos outros.
c) O patrulheiro não convive bem com a autoridade, podendo, algumas vezes, rebelar-se contra ela.
d) Para o patrulheiro, o mundo é repleto de ameaças.
e) Sua natureza questionadora leva-o a ver adiante do que normalmente as pessoas vêem: ele é capaz de identificar as verdadeiras motivações e as intenções ocultas que influenciam os relacionamentos.



O epicurista ou sonhador
Esse verdadeiro gourmet da vida tem o poder de reunir em torno de si o lado volátil das coisas. Ele quer ser um eterno jovem, possui elevado grau de energia e motivação e é intuitivo. É um amante volúvel que evita responsabilidades. Sua grande dificuldade está em finalizar coisas que, por sinal, inicia com a maior desenvoltura e entusiasmo. Compromissos também representam um problema para o epicurista, assim procura neutralizá-los deixando à sua disposição várias opções em aberto. A atração ao prazer é uma forma de escapar ao sofrimento.


Focos de atenção:
a) Sempre aberto a coisas novas, busca projetos interessantes para se envolver, porém tem dificuldade de levá-los adiante.
b) O prazer é o seu refúgio contra o lado da vida que considera “negro” (responsabilidades, sofrimento, compromissos, envolvimentos mais profundos...).
c) Usa seu charme e talento para criar um clima amistoso com as pessoas. Mas, no fundo, é um medroso.
d) O sonhador dá o seu reino para evitar confrontos, mas quando eles acontecem, dá um jeito de sair pela tangente.
e) O epicurista tem uma capacidade incrível de achar conexões, paralelismos e ajustes que ninguém vê e um talento para a síntese não-linear das informações.


O patrão ou confrontador
Aquele tipo “paizão”, superprotetor e controlador é o retrato do confrontador, não por acaso, também denominado “o patrão”. Ao contrário do patrulheiro, esse tipo adora uma briga. No ambiente de trabalho certamente será aquele que luta pelos companheiros. Aproxima-se do líder de um grupo com facilidade e, caso deseja estar nessa posição, inicia o combate. Se não a quer, respeita a pessoa que a tem. É comum ver confrontadores em postos de comando e, em geral, revelam-se líderes capazes de usar o próprio poder com sabedoria. No amor, porém, usa o argumento da proteção para manter o poder e o controle da situação.


Focos de atenção:
a) Os confrontadores se preocupam com a justiça, mas desprezam a fraqueza, nem conseguem encarar as próprias.
b) O patrão é um exagerado no estilo pessoal.
c) Para ele, é tudo ou nada. Isso leva-o a perceber as situações em pontos extremos.
d) Como tem dificuldade de controlar os impulsos, necessita estabelecer limites.



O mediador ou pacificador
Os dois lados de uma mesma questão estão sempre presentes na vida de pessoas com este tipo de personalidade. Deseja possuir uma relação harmônica com o mundo, sendo, dessa forma, grandes pacifistas. Sua capacidade de ver sob um ângulo de 360 graus torna-o precioso, um sábio na arte de apontar soluções. Uma forte necessidade de agradar as outras pessoas leva o mediador, muitas vezes, a esquecer seus próprios desejos. Não é exagero dizer que este tipo conhece melhor desejos e necessidades dos outros do que os próprios. Se é solicitado para ajudar, está ali presente prontamente – desde que não exijam dele uma postura. Equilibra-se em cima do muro. “Sim”, “talvez”, “muito pelo contrário” são expressões que fazem parte do seu repertório.


Focos da atenção:
a) Facilmente substitui necessidades essenciais por coisas desnecessárias.
b) A pessoa com esta personalidade enfrenta dificuldades nas mudanças. Para ela, é mais fácil saber o que não quer do que o que quer.
c) O mediador não consegue dizer não. Tomar iniciativas quanto à separação também é motivo de angústia para ele.
d) Perde o senso com facilidade e, para amortecer a energia física e a raiva, desvia-se para trivialidades.
e) A dificuldade de assumir uma posição pessoal também desenvolve a capacidade de identificar o que é essencial para a vida de outras pessoas, podendo, assim, ajudá-las.



RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE PERSONALIDADE E O TRABALHO EM EQUIPE


Os tipos de personalidade podem contribuir ou não para o desempenho das equipes. Cada personalidade possui características definidas com seus respectivos focos de atenção, que, todavia, se interagem, definindo indivíduos com certas características mais salientes e que incorporam características de um outro estilo.
A relação entre os tipos de personalidade e o trabalho em equipe é de difícil compreensão e funcionamento, pois as equipes são formadas por pessoas, as quais são diferentes umas das outras, cada qual com sua visão de mundo e atitudes. 
Analisando-se os nove tipos de personalidades, observa-se que eles descrevem a natureza humana. Vistos de maneira objetiva, nenhum dos nove padrões é bom ou mau, certo ou errado. Cada um é uma combinação distinta de força e fraqueza, beleza e feiura. Nenhuma personalidade é melhor ou pior. Às vezes, determinada pessoa pode achar que o seu padrão é o melhor, outra vezes, que é o pior. Mas é possível, num momento, encontrar força em um padrão e, num outro, encontrar uma fraqueza.
Na análise das personalidades, nada é estanque e tudo pode se ajustar, desde que se esteja disposto a
fazê-lo. Nunca um protetor carrega somente as características da sua tipologia. Uma pessoa com o centro emocional predominante não será necessariamente uma boa artista. Talvez brilhe mais como administradora. Todos os tipos são interligados e se movimentam fazendo contrapontos e complementos. Nesse sentido, cada tipo de personalidade é formado por três aspectos:
a) o predominante, que vigora na maior parte do tempo, quando as coisas transcorrem normalmente e
que é chamado de seu tipo;
b) o aspecto que vigora quando se é colocado em ação, gerando situações de estresse; 
c) e o aspecto que surge nos momentos em que não se sente em plena segurança.
Para dar um exemplo, ao se ver numa situação de estresse, o observador (em geral, quieto e retraído) torna-se repentinamente extrovertido e amistoso, características típicas do epicurista, num esforço de reduzir o
estresse. Sentindo-se em segurança, o observador tende a se tornar o patrão, direcionando os outros e
controlando o espaço pessoal.
Todos têm virtudes e aspectos negativos. Então, costuma-se conviver com os aspectos mais positivos de cada tipo. Se tudo continuar indo bem, a essas qualidades se somarão outras de outro tipo, promovendo integração. Alguns exemplos: se o tipo empreendedor se integra com o sonhador, ele pode passar a ter auto-estima apurada e a saber levar a vida sem dramas. Ficará mais otimista, espontâneo e criativo também. Não se prende a fazer coisas que não satisfazem seus desejos e os dos outros.
Se o tipo individualista integra-se com o empreendedor, provavelmente ele poderá ser capaz de agir no presente e com objetividade, aceitando a realidade e vivendo suas emoções como são, sem tentar ampliá-las. Já se o sonhador integrar-se com o observador, sua capacidade de introspecção será imensa e saberá como ninguém apreciar o silêncio e a reflexão.
Quando se está inseguro, em plena crise de estresse, colocam-se em ação os mecanismos de defesa,
deixando transparecer aspectos negativos. A exemplo do movimento de integração, quanto mais aguda
for a crise, passam-se a agregar os pontos fracos de outro tipo – ligado ao básico. Por vezes, a instalação
do tipo de desintegração é durável e, nesse caso, pode ser necessária uma assistência especial.
A passagem pela desintegração do tipo de personalidade causa sofrimento, pois torna-se muito mais vulnerável e corre-se o risco de se deixar levar por sentimentos destrutivos. Daí a importância de entender esses movimentos.
Percebe-se que, para o sucesso das equipes, se faz necessário que os seus integrantes utilizem empatia, ou seja, se coloquem no lugar dos outros, estejam receptivos ao processo de integração e, dessa forma, permitam-se amoldar. Se não houver esse tipo de abertura, em que cada um dos elementos ceda, a equipe será composta de pessoas que competem entre si, o que traz o retrocesso da equipe ao conceito simplista de grupo, ou seja, apenas um agrupamento de indivíduos que dividem o mesmo espaço físico, mas que possuem objetivos e metas diferentes, bem como não buscam o aprimoramento e crescimento dos outros.
Por mais que os individualistas considerem importante um projeto ou por mais que os observadores reflitam sobre ele, ele não será concluído sem a energia despendida por outra pessoa, com outro tipo de personalidade - o que demonstra a necessidade da interdependência.


Adaptado de Preisler, Borba e Battirola

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